sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Feliz sexta-feira na Bahia


'Continuemos assim' seria fatal para o Brasil


Depois de 12 anos de PT, a esquerda se tornou conservadora, e a direita pressiona por mudanças. Só que Dilma não pode ignorar as reformas reivindicadas
"Nada de experimentos! Manter o curso! Continuemos assim!" Quem diria que justamente os velhos slogans eleitorais dos conservadores alemães se aplicariam ao Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro? A legenda da presidente Dilma Rousseff se tornou conservadora. Ela quer preservar o status quo, prosseguir como fez até agora.

A maioria dos eleitores brasileiros tampouco queria experimentos: 51,64% deram seu voto a Dilma; o adversário Aécio Neves, do conservador PSDB, ficou com 48,36%. Em especial os eleitores das camadas mais pobres temeram que as reformas prometidas por Aécio também não fossem poupar os programas sociais.

É paradoxal, mas, depois de 12 anos de PT no poder, os conceitos políticos se deslocaram. A esquerda se tornou conservadora; a direita, por sua vez, pressiona por mudanças. Mas todo o Brasil não está ansiando por revolução e mudança? Os enormes protestos de junho de 2013, pelo menos, foram interpretados como indício inconfundível da insatisfação crescente com o governo da presidente Dilma.
Aécio não conseguiu usar em favor próprio essa insatisfação crescente. Sua campanha anti-Dilma teve sucesso sobretudo junto àqueles que já estavam céticos em relação ao PT. Os eleitores indecisos ou os simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, esses ele não conseguiu convencer de seus méritos.

Dilma, por sua vez, reagiu com habilidade aos protestos de 2013 e "mandou ver". Ela trouxe médicos cubanos para o país e se empenhou para que o Congresso aprovasse duas leis que há anos estavam na gaveta: o emprego da receita adicional da exploração do petróleo nos setores de saúde e educação; assim como a definição da corrupção como crime hediondo.

Dilma não podia nem pretendeu acabar com a polarização da sociedade brasileira. Vencida a eleição, os petistas se encontram diante de um monte de destroços políticos. Escândalos de corrupção abalam o partido, investidas verbais abalaram relações pessoais, uma burocracia inflada fornece guarida a aproveitadores políticos.

É preciso conversar

Mesmo que as pessoas não concordem em algumas coisas, elas precisam conversar. Conversar, todos sabem, não arranca pedaço
Renan Calheiros, presidente do Senado 

Brasil, o mundo de amanhã


No novo mandato de Dilma Rousseff, o país enfrenta o desafio da modernização. Seria bom apostar nos talentos mais jovens e atender as expectativas de uma geração que exige um futuro melhor
Brasil e América Latina estão novamente numa encruzilhada. A região inteira está se despedindo de uma belle époque, um tempo de altas taxas de crescimento impulsionadas pelo empurrão das matérias primas. Com a irrupção da China no xadrez mundial, no início dos anos 2000, a América Latina viveu uma bonança sem precedentes. Esse motor está parando. O efeito do conto chinês ainda se mantém. Mas estamos vendo o fim de uma época. Como em “O Mundo que Eu Vi”, aquele canto de cisne escrito por Stefan Zweig no Brasil, toda a região deve despedir-se dos velhos tempos que passaram. E não voltarão.

As eleições brasileiras, que terminaram com a apertada reeleição de Dilma Rousseff, reforçam uma virada na região. Em todos os países – inclusive no sempre exemplar Chile – vê-se uma economia política da impaciência. Os jovens, que estão entrando no mercado de trabalho, pedem melhores condições e as classes médias, que se fortaleceram com a bonança, pedem melhores serviços públicos, mais e melhor educação, saúde, transporte. Os protestos de rua vistos nos últimos meses em Santiago, São Paulo e Lima têm uma mesma matriz, uma crescente demanda por melhor redistribuição das riquezas das nações. 

Nas estatísticas, Brasil é um dos menos corruptos


De duas, uma. Ou a corrupção que grassa no Brasil não ultrapassa nossas fronteiras ou ultrapassa, sim, mas os poderes encarregados de combatê-la estão pouco se lixando para isso.

Dilma Rousseff atravessou os dois turnos da recente eleição presidencial empenhada em convencer os brasileiros que seu governo, e os dois anteriores de Lula, sempre travaram o bom combate contra a corrupção.

Segundo o novo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a Convenção de Combate ao Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações de Negócios Internacionais, na verdade falta ao Brasil vontade política para aplicar de forma eficaz os progressos de sua legislação contra a corrupção transnacional.

Leia mais o artigo de Ricardo Noblat


As pedras no caminho

Nas eleições presidenciais, o risco de derrota sempre existiu. Uma das causas foi a inapetência em simplesmente fazer política, lubrificada sobretudo pela conversa mole. Agora, passada a fantasia eleitoral, o caminho recomeça a ser trilhado com muitas dificuldades e uma grave herança maldita na política.  Para piorar, ronda, tal qual um dragão alado sobre o universo político, o avanço das investigações do Petrolão! 
Murillo de Aragão, "Caneladas de início"  

Um clique para a pose angelical


A campanha eleitoral não só deixou arranhões, marcas, hematomas, tal a sua agressividade. Ficaram lições da guerrilha petista, insuflada pelos seus comandantes, que abusou da calúnia, infâmia e difamação. Lições para se refletir sobre em que Estado vivemos. E não é nada bom o que se vê.

Com ordens de baixar o cacete, fazer o diabo, os comandos petistas e aliados mostraram do que são capazes quando têm as costas quentes. Em nenhum momento, foram advertidos da insanidade por quem de direito. Saíram como cachorros loucos, babando raiva como tropa do Estado Islâmico. Até a candidata entrou no coro dos enlouqueidos, levianamente, num exemplo de quem pouco ligou para respeito e discussão de ideias.

A pancadaria petista se viu liberada para bater em quem decidia em seus tribunais de esquerda festiva. O tacape se deu ao desvario em época de campanha, mas mesmo fora dela o regime popularizou a caça a quem apelidam de "eles".

Não é de hoje que o uso das instituições em nome de defender os petistas de críticas virou rotina. Taxam adversários como caluniadores, infames, detratores, mentirosos. Bancam mesmo ações judiciais contra o que apelidam de injúrias.

A internet está entulhada de casos da perseguição petista, sempre indignada com as críticas, que não tolera contra si.

Nos feudos municipais dominados pela gente do PT, a perseguição é conhecida há anos. Blogues são silenciados, saem do ar, a tropa de soldados entope caixas com comentários os mais agressivos. O inferno não é de hoje nessas localidades. Fedem longe as agressões de quem não convive com críticas, nem as mais leves.

Têm como exemplo o capo di tutti capi. Saiu batendo e denegrindo uns e outros, agora acena com o paz e amor de outros tempos, como um anjo da reconciliação com alto DNA de falsidade. No cúmulo da canalhice, diz que o "Nóis" como se identificam sofreram o pão que o diabo amassou. E agora estão prontos para a foto angelical e, se duvidarem, posam até com as bençãos papais.