sexta-feira, 10 de outubro de 2014

E vem mais


No segundo turno, um plebiscito


‘Chega de PT’, ou ‘Mais PT’, essa será a escolha que o eleitorado fará daqui a três semanas
A doutora Dilma vai para o segundo turno sem uma plataforma clara. Em junho, durante a convenção do PT para anunciar um “Plano de Transformação Nacional”, no qual, além de generalidades, ela prometeu uma reforma dos entraves burocráticos e um projeto de universalização do acesso à banda larga. Como? Não explicou. No seu lugar, entraram autolouvações e manobras satanizadoras contra os adversários. Delas, a mais mistificadora é aquela que confunde os oito anos de Fernando Henrique Cardoso com uma ruína econômica e social. Foi o período de esplendor da privataria, época em que um hierarca do Ministério do Trabalho dizia que o aumento do número de brasileiros sem carteira assinada era uma boa notícia, mas deve-se ao tucanato algo muito maior: o restabelecimento do valor da moeda. Sem isso, Lula, Dilma e o PT não teriam conseguido quaisquer avanços sociais. Por questão de justiça, reconheça-se que o DNA demofóbico de parte do tucanato seria um obstáculo para que fizesse o que Lula fez.

A ideia segundo a qual o PT precisa continuar no poder porque no poder deve continuar é pobre e pode funcionar como uma armadilha. Na noite de domingo, a doutora Dilma afirmou que o “povo brasileiro vai dizer que não quer os fantasmas do passado de volta”. Pode ser, desde que se entenda que o Brasil de FHC foi um castelo mal-assombrado. Mesmo nesse caso, o PT faz sua campanha pretendendo continuar no governo pelos defeitos do adversário e não pelas suas próprias virtudes. Colocando a questão dessa maneira, deu a Aécio Neves a oportunidade de responder: “O Brasil tem medo dos monstros do presente”.

A corrupção de Estado


O principal nó a desatar nas democracias desenvolvidas é a corrupção institucional que engendraram o imensurável crescimento dos aparatos dos partidos e o enorme aumento dos gastos eleitorais na luta interpartidária.
Javier Pradera, no recém lançado “Los costes de la democracia”, quando investiga as relações entre corrupção e política, ainda critica os políticos intransigentes, de direita ou de esquerda, que pretendem queimar as democracias existentes em nome de democracias imaginárias

Tô de férias


Prefeito de Maricá e presidente regional do PT, Quaquá anunciou que vai tirar férias – se não bastassem as “viagem de negócios” por todo canto. Agora neste merecido descanso, batalhará pela eleição de Crivella e a reeleição de Dilma, já que a mulher e o fiel cumpanheiro garantiram troninhos nas Câmaras.

Nem Dilma é Lula, nem Aécio é FHC


No Brasil, os filhos da classe C já não querem ser vistos nem tratados como pobres
As simplificações são sempre errôneas, assim como as dicotomias. Também nestas eleições. Por exemplo, é uma simplificação dizer que Dilma é Lula ou que Aécio é Fernando Henrique.

Se a Presidenta candidata Dilma fosse Lula, provavelmente teria sido eleita no primeiro turno. O PT sabia muito bem disso ao proclamar o “Volta Lula”.

Aécio também não é Fernando Henrique. Se fosse, não teria chegado ao segundo turno já que, no inconsciente coletivo, o sociólogo do PSDB sofre, ainda que injustamente, muito mais rejeição que o ex-senador mineiro.

Não só as simplificações costumam estar erradas, como também as dicotomias. Exemplo disso é a divisão do país entre ricos e pobres. O PT seria o partido dos pobres e o PSDB o dos ricos. Acontece que nunca os ricos foram tão ricos, nem os banqueiros e empresários ganharam tanto neste país como nos 12 anos de governo do PT. Por outro lado, as primeiras reformas sociais desde o Bolsa Escola até a revolução no ensino que colocou 90% das crianças nas salas de aula, metade das quais trabalhavam sem poder estudar, foram obra do PSDB.

Sem a revolução monetária realizada pelo partido de Fernando Henrique, que acabou com o drama da inflação, Lula e Dilma não teriam podido concretizar sua outra revolução: a de colocar milhões de trabalhadores pobres no mundo do consumo e, desse modo, superar a grave crise mundial de 2008.