sábado, 4 de outubro de 2014

Campanha


Não dar vez a cretinos


Dizer não



Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de “elitismo”, mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade. 


Vergílio Ferreira

Dilma e o voto que vem pelo Correio


  “Isso é um absurdo, pô”. Você pensa que a presidente da República está indignada com o aparelhamento e uso de uma empresa estatal para trabalhar na campanha de sua reeleição?

Nem que a vaca tussa. A presidente não está indignada com o fato, mas com a divulgação do fato, que ela atribui à “proximidade da eleição”. Mas nem é uma denúncia da oposição nem de seus adversários. É a exibição pura e simples de um vídeo onde um deputado petista se vangloria do “dedo forte dos petistas dos Correios” na  virada das intenções de voto dos candidatos do partido a presidente e a governador.

No centro da mesa do evento filmado, impávido e colosso, o presidente da estatal, Wagner Pinheiro, que mais tarde divulgaria sua indefectível nota oficial desmentindo que os Correios estejam favorecendo alguém.

O PT costuma alegar “falta de provas” em qualquer caso de denúncia de malfeitos do partido, e pelo que se vê, o partido nao aceita nem as provas que ele mesmo produz.

Assim realmente fica difícil cumprir uma das tarefas fundadoras do PT, que é a de empunhar a bandeira da ética na política. Nao importa que a bandeira esteja um tanto esgarçada pelo mau uso que foi feito dela, desde que algumas  pessoas ainda acreditem nela-ou pelo menos deixem de considerá-la importante, já que “todo mundo faz a mesma coisa, nao é mesmo?”.

Mas se ninguém se incomoda em nivelar a prática política por baixo, nem mesmo o PT, que supostamente nasceu para nivelar por cima, será preciso acreditar em outra coisa, para diferenciar o partido dos outros.

A temporada festejada de inclusão social não teria começado sem a estabilidade econômica, e isso é consenso entre todos as pessoas sérias, e embora o PT tenha votado contra ela, se assenhorou de todos os frutos da árvore, que ele não só não ajudou a plantar, como apedrejou o quanto pôde.

Lula, o palanqueiro, disse em um comício recente, ao comentar as oscilações da Bolsa em função das pesquisas eleitorais, que ele “nunca pediu votos ao mercado”. Claro que a platéia que o ouvia pode ter ido ao delírio, porque a excitação coletiva com frases de efeito faz parte da prática populista, e ninguém naquele ambiente teria o mau gosto de lembrar que ele só ganhou as eleições de 2002 depois de acalmar o mercado com a “Carta ao Povo Brasileiro”, onde o programa do PT foi sepultado para descansar em paz.

Na propaganda eleitoral muito pouco fraterna, o PT destruiu a ex-companheira Marina, dedicando-lhe a acusação de “neoliberal”, que no dialeto das esquerdas pós-modernas é algo pior do que “lacaio do imperialismo” na segunda metade do século passado.


 Não importa que não haja nenhuma semelhança entre o que o PT diz e o que ele faz. Afinal, a alma daquele partido que muitos idealistas adotaram por ser “diferente de tudo que está aí” já morreu e o corpo espera uma extrema unção digna.
Sandro Vaia

O silêncio dos 'inocentes'


Em meio ao foguetório eleitoral, num berço esplêndido, há quem se finge de morto, mas está mais vivo do que nunca. Passa despercebido nessa corrida um partido do qual pouco se fala, mas pode vir a ser novamente coadjuvante mesmo que o PT diga adeus à presidência.

Os dados já sinalizam quem será o grande vitorioso das urnas e o maior derrotado. O Oscar irá mesmo para o PMDB, que deve praticamente governar a maior parte do país com nove governadores e a maior bancada na Câmara. É quase um replay de 1974, quando o então MDB, em plena ditadura, humilhou a Arena.

Se em 2010 o PT elegeu cinco governadores inclusive de colégios eleitorais de peso. Não repete o feito e sua para não passar vergonha. Com 17 candidatos aos governos e só aparece com chances de vitória no Piauí, Acre e Minas Gerais. Também não conseguirá manter os 88 deputados, podendo ficar até um terço menor.


O PT realmente não é o mesmo motivador de massas. Não é à toa que candidatos de coligações estejam escondendo a cor e os símbolos do companheiro. Está virando um sapo indigesto.