domingo, 28 de setembro de 2014

Imbatíveis


Petrolão para todos


Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine no pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar
 Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa despenca, e lá vêm os gigolôs da bondade denunciar a trama capitalista contra o governo do povo. Mas o que dizer então da bolsa eleitoral? Quanto mais apodrece o escândalo da Petrobras, mais Dilma se recupera nas pesquisas. Será que o eleitor está querendo virar sócio do petrolão?

Só pode ser. O espetáculo da orgia na maior empresa brasileira chegou ao auge com a delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Em ação raríssima entre os oprimidos profissionais, o réu decidiu abrir o bico. Talvez tenha aprendido com a maldição de Valério — que demorou a soltar a língua, e de repente a quadrilha (desculpe, ministro Barroso) já estava em cana. E seu silêncio não valia mais nada. Diferentemente do operador do mensalão, o despachante do petrolão não quer mofar. E saiu entregando os comparsas.

Apontou duas outras diretorias da Petrobras como centrais da tramoia, dando os nomes dos seus titulares — indicados, que surpresa, pela cúpula do PT. Isso em plena corrida presidencial. Então a candidata petista está ferida de morte, concluiria um marciano recém-chegado à Terra. Não, senhor marciano: após o vazamento da delação, a candidata do PT subiu nas pesquisas.

Ora, não resta outra conclusão possível: o eleitor quer entrar na farra do petrolão. Está vendo quantos aliados de Dilma encheram os bolsos com o duto aberto na Petrobras, e deve estar achando que alguma hora vai sobrar um qualquer para ele. É compreensível. Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine quando a prospecção chegar ao pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar (a não ser os reacionários que não cultivarem as relações certas).

Debate de propostas se perde em ataques e escândalos

Debates se tornaram ringues de dois contra uma, a única a fazer certo
Com tom da campanha cada vez mais agressivo e centrado em ataques mútuos entre os candidatos, discussão sobre o conteúdo dos programas de governo é deixada de lado. Quem perde é o eleitor.

Com as pesquisas de intenção de voto indicando uma disputa acirrada, a campanha eleitoral deve ficar ainda mais agressiva nos próximos dias, à medida que se aproxima o primeiro turno. Esse foco nos ataques pessoais e na tentativa de desconstruir adversários ofusca, porém, o debate construtivo de propostas para solucionar os problemas do país.

Especialistas avaliam que o conteúdo programático foi pouco debatido até aqui e alertam: essa situação não deve mudar – ao contrário, a agressividade vai aumentar ainda mais no segundo turno.

"A campanha tem ficado em acusações. Se discute o medo, a incompetência ou a experiência, mas não os projetos para o Brasil: política econômica, questão trabalhista e previdenciária, a retomada do crescimento, os programas sociais. É um debate cifrado, pobre e incompleto", diz o cientista político Antonio Carlos Mazzeo, da Unesp e da PUC-SP.

"A disputa será mais acirrada, e os ataques vão piorar. Isso é ruim para a democracia e para o eleitor", opina o historiador e sociólogo Marco Antonio Villa.

Um fator até mesmo curioso e que dificulta a possibilidade de debate de propostas entre os candidatos é a falta de programas de governo disponíveis para consulta do eleitor.

Até agora, Marina Silva (PSB) foi a única dos três principais candidatos a apresentar uma versão final do seu programa de governo. Entretanto, enfrentou graves críticas por ter recuado em alguns pontos do documento, como os direitos LGBT e a política energética.


Já Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) entregaram documentos genéricos no início de julho, com a promessa de divulgar a versão detalhada e consolidada até as eleições, o que ainda não ocorreu.