terça-feira, 23 de setembro de 2014

Faltará brejo

Não há dúvida de que a vaca está indo para o brejo. A questão
é saber a distância do brejo e a velocidade da vaca”

A mancha do petróleo

A principal vítima do escândalo causado pelas confissões explosivas de Paulo Roberto Costa é o Partido dos Trabalhadores. Sempre que sentiu um perigo eleitoral, o PT escudou-se na Petrobras. 

O Governo do Brasil está ferido por uma novidade que percorre a região: a bonança internacional, que permitiu a distribuição das receitas extraordinárias, começou a diminuir. Na última década, os que exerciam o poder pareciam imbatíveis. Hoje estão vulneráveis. Também estão em risco a Frente Ampla no Uruguai e o kirchnerismo na Argentina. O declínio vem sempre acompanhado de escândalos de corrupção. Nada surpreendente. Quando os recursos escasseiam, as sociedades se tornam mais sensíveis à ética.

O Brasil está emperrado

A economia brasileira, exemplo de estímulo durante uma década, começa a ficar paralisada devido ao cansaço do consumo interno, bem quando acontecem as eleições gerais
Muitos especialistas previam isso já faz algum tempo e por fim aconteceu há duas semanas: a economia brasileira, a sétima do mundo, enfrentava o segundo trimestre consecutivo de retrocesso do PIB e entrava no que, no jargão dos economistas, é chamado de “recessão técnica”. Paralelamente, a agência classificadora Moody’s baixou, na semana passada, a nota do país em um ponto, passando de “estável” a “negativa”. Nem as cifras, nem a chamada de atenção da agência são alarmantes, mas são significativas: de janeiro a março, o PIB brasileiro recuou 0,2%. Nos últimos três meses o recuo foi de 0,6%. Mais que o alcance, o importante é a novidade. Nos últimos anos, o Brasil só tinha registrado números vermelhos no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, quer dizer, nos piores dias do turbilhão da crise planetária que sacudiu o mundo financeiro.

Outros países ficaram aí, no buraco, mas o Brasil, animado por um consumo interno vigoroso, pelas exportações à China e um ciclo econômico em alta, se recuperou em seguida. Até agora. Hoje, sem fôlego, o país parece condenado a parar a fim de conseguir recuperar suas forças. A maioria dos especialistas coincide que é uma parada quase técnica, um tipo de tempo morto para recompor suas linhas antes de recomeçar. Mas, no meio de uma disputada campanha eleitoral entre três candidatos cujo primeiro assalto será resolvido no próximo dia 5 de outubro, a notícia da recessão teve o efeito de um tijolo jogado no meio de um tanque. Os candidatos Marina Silva, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Aécio Neves, do mais conservador Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB) se apressaram a acusar a presidenta Dilma Rousseff de não reconhecer seus erros e de ter levado o país a um beco sem saída. Neves foi explícito: “A senhora vai entregar um Brasil pior do que encontrou e isso acontece pela primeira vez em nossa história moderna.”

Gestão sem ética é indigestão

 

A ferramenta de monitoramento das redes da Fundação Getulio Vargas tem mostrado com eloquência que os temas da transparência e do combate à corrupção vieram para ficar.

Assim, análises que atribuíam a ascensão de Marina Silva à sua superexposição de mídia ficaram prejudicadas. O buraco é mais embaixo.

Além de uma demanda histórica por ética na política, há a figura da própria Marina. Sua biografia é mais eloquente que qualquer discurso ou marquetagem eleitoral. Querem um teste? Suprimam o som dos debates televisivos e perguntem a um popular quem lhe parece mais confiável entre os candidatos.

Assim como qualquer cidadão brasileiro que vive de sua profissão, Marina foi seringueira, doméstica e professora antes de ser política. Como qualquer um de nós, que vive de seu trabalho e tem um nome a zelar, ao contrário do “caçador de marajás” ou do que denunciou “os 300 picaretas” antes de se juntar a eles. Como diz o ditado popular, “diz-me com quem andas, e eu te direi quem és!"

O eleitor resolveu cobrar o que fizeram Lula, Collor, Dilma e até mesmo Aécio Neves, noves fora a vida de políticos profissionais. Já buscaram o pão com o suor do rosto ou sempre viveram às custas do poder público?

Quanto mais os analistas criticam a candidata por não ter jogo de cintura e não abrir mão de seus princípios e valores, mais a sua figura ascética ganha adesão. Não consideram que talvez o país esteja cansado de indistinção moral, da geleia geral das coalizões espúrias e das alianças de bordel.