segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Velha prática de tiranos


Nem o melhor marqueteiro do mundo poderia imaginar que houvesse algo acima dele. Mas há, e com força para silenciar qualquer canto de vitória antes do jogo acabar, até destronar quem já estava quase se sentando de novo no trono.

Há pouco mais de duas semanas, a morte de Eduardo Campos, o terceiro nome na lista da corrida presidencial, embaralhou todas as jogadas de marketing, acabou com as estratégicas políticas de 20 anos no país. Em seu lugar, a ex-ministra e ex-senadora, Marina Silva, passou a ocupar mais até as páginas da mídia, suplantando e muitas vezes apagando a super Dilma, que de trem bala da corrida eleitoral se transformou em um bonde sem jeito para andar nos trilhos, com sério risco de descarrilar de vez.

Uma política de arranjos por mais tempos de exposição no horário eleitoral, valendo alianças as mais descabíveis; trombetas anunciando maravilhas de realizações que nem saíram do papel; alianças que mostram o vale tudo pelo continuísmo; as mais mirabolantes jogadas de marketing. Nada conteve a alta inesperada.

A exposição da candidata não para e se acelera, porque os adversários, pegos de surpresa, põem mais lenha nas turbinas da ex-ministra do Meio Ambiente, defenestrada no governo Lula com a força de Dilma.

Ninguém mais desconhece Marina, que vem fazendo escola até entre os petistas, apropriando-se da sua terceira via, de uma “nova política” que não se sabe bem o que é, mas parece colocar tudo nos eixos. Todos querem se igualar ao meteoro que caiu nas eleições brasileiras, tirar uma casquinha dessa subida vertiginosa.

Para evitar mais estrago, os marqueteiros acertam os canhões. Está decretada a caça à Marina custe o que custar. Falam em “arrocho”, “desastre econômico”, “anti-política” para definir a ascensão. Especialistas e alguns jornalistas destacam as falhas da candidata. O cenário se confunde. Todos dando como favas contadas a vitória do PSB, se não pisarem na bola, claro.       

Marina não é um cataclisma como apontam os adversários, em especial os dilmistas loucos para tirar a candidata de cena. Alguns chegam a chamá-la "autoritária", mas será mais do que a atual presidente, gerentona, mandona, que aparelhou o Estado em prol do partido?

Também ameaçam e profetizam semelhanças da candidata do PSB com Jânio e Collor. São os magos da política viciada e corrupta dispostos a comparações às mais estapafúrdias sem base no tempo e realidade nacional. Trocam os pés pelas mãos.

Marina pode ser tudo, muito mais uma incógnita, mas nunca será o que os adversários apontam. Defeitos, ela os tem, mas bem menos do que o corolário de Dilma, sentada no poderio da máquina pública. E perde apenas em "virtudes" para Aécio, que estava preparado para outra corrida eleitoral que, no momento, ficou pelo caminho. 

Marina também não é nenhum bicho-papão que levaria o país ao fundo do poço por não saber administrar. Ainda mais porque no fundo já se está chegando agora com quem era maquiada como a magnífica administradora. E a saída, certamente, não é ficar como está para ver como é que fica.

O eleitor deve respeitar sua candidatura sem colocar penduricalhos onde não há. E mesmo que não seja lá o governo dos sonhos, é da democracia deixar livre a escolha. Assim foi com os fracassos do lulismo, impostos com a troca de cargos por votos. E “eles” não reclamaram, só falam no pé do ouvido agora do poste no Planalto, porque com o de São Paulo até jogaram a toalha.

Usar o medo e a insegurança de um próximo mandato sem o PT no comando é privilégio de ditaduras, que governos corruptos adotam, para fugir das explicações no futuro. Até mesmo mostrar uma ficha limpa na História, reescrevendo-a quando possível. Nada mais é o que se vem fazendo. Profetizar um cenário de catástrofe, de autoritarismo, contra Marina, no momento, é coisa de cafajeste, quando não de bandido. Foi o mesmo discurso que derrotou o PT na campanha de Collor. É uma cacetada na democracia de que tanto se gabam, quando os favorece.


Se jogarem sem ataques, como são contumazes, ganhará a eleição, mas estarão propensos a se arriscar a amargar um terceiro posto. É que se esqueceram do que é mudança, e só os adversários Marina e Aécio estão propondo o fim do jogo sujo, cada um a seu jeito. Bom ficar com as barbas de molho, de promessas o inferno está cheio e o país, esgotado. O eleitor está querendo propostas.

Frase ou farsa?

“Dilma consegue dialogar com todos os setores. Quem consegue fazer isso é a presidente Dilma, uma estadista. (…) Dilma continuará construindo o Brasil.”
Michel Temer

Manhattan




202,8 milhões: e agora?

"Manifestação", do argentino Antonio Berni
Alcançamos no Brasil a respeitável cifra de 202,8 milhões de habitantes. Quantos deles são cidadãos plenos com os direitos garantidos e cumpridores das obrigações cívicas e sociais?

Há 44 anos, em 1970, os míticos 90 milhões de brasileiros eram convocados por uma sanguinária ditadura militar para grandes empreitadas. Na geração seguinte, multiplicados por pouco mais do que dois, desfeito o milagre, alcançamos a respeitável cifra de 202,8 milhões de habitantes – quantos deles são cidadãos plenos com os direitos garantidos e cumpridores das obrigações cívicas e sociais?
Os censos começaram precariamente no Brasil-colônia, no século XVIII, a primeira contagem científica data de 1940, dois anos depois da criação do IBGE graças à presença no Brasil do eminente demógrafo italiano, Giorgio Mortara, um refugiado do fascismo. Éramos então cerca de 41 milhões de súditos de outra implacável ditadura, dita “modernizadora” – o Estado Novo.
Estamos sendo continuamente batidos pela demografia, não obstante a excelência do IBGE ao longo dos seus 74 anos de existência. Os saltos qualitativos acabam sempre neutralizados pela invencível parceria entre o crescimento populacional e a frouxidão com que as políticas públicas são implementadas e administradas. E continuam assim, mesmo com uma razoável taxa de crescimento populacional (0,86%).