quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sonho, será?



Mas um dia talvez tenhamos um governo genuinamente democrático, um governo disposto a contar ao povo o que está acontecendo, o que deve ser feito em seguida, quais os sacrifícios necessários e por que fazê-los. Ele então precisará de mecanismos para fazer isso, dos quais o primeiro são as palavras certas, o tom certo de voz
George Orwell, no livro "Como morrem os pobres e outros ensaios" 

Drummond e sua atualidade

“(...) Vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições.

(...)E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?”

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) escreveu a crônica “Perder, ganhar, viver” para o Jornal do Brasil (21 de junho de 1982) logo após a eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Quase uma profecia de cenas vistas em 2014.
O texto naíntegra pode ser lido aqui

O poeta e sua poesia

Vinicius de Moraes, autor e voz em "Pátria Minha"

A balela da sensação de cultura

Os brasileiros adotaram o jargão dos meteorologistas de vez até mesmo para ser usado em medidas de grande interesse público. E os petistas esbanjam em criatividade para tornar o país um sensitivo. É sensação de segurança, de saúde, de educação e de cultura. Usam e abusam dos projetos, por incapacidade de ir mais longe e, como gestores governamentais instalar uma política correta de cada setor. É que o projeto pode sofrer mudanças até sua instalação e até mesmo sumir de vez sem que seja implementado como acontece com o tempo meteorológico. Mas o melhor do projeto, como utilizam hoje, é criar a sensação de que algo está sendo feito, mesmo que nada se realize. É ovo que já entra gorado na chocadeira, mas que os governos descaradamente contabilizam como realizações.  

É o que mais uma vez acontece em Maricá com o lançamento de outro projeto, agora o Maricá que Lê, com objetivo de “mostrar que o livro é livre”.  A canalhice do governo está logo na cara com o anúncio do enésimo programa no setor livreiro que os petistas prometem para ocupar espaço na mídia. Tudo porque não têm nem nunca tiveram uma política para o setor cultural, o que deve ser princípio de qualquer administração com o mínimo de honestidade para cuidar de um município.  

Lançar um projeto de leitura onde poucas, e mínimas, são as bibliotecas escolares, a biblioteca municipal está entregue às intempéries, a poesia e o livro já foram destaque na boca maldita, serviram de show para as bebedeiras em frente aos bares, e outros mortos em feto, é mais uma canalhice com a chancela governamental. Sem falar na feira de livro, que esbanjou R$ 1 milhão a livreiros, para farta distribuição de vales-livro de até R$ 200 para comissionados.

Quando não se tem política para qualquer setor, os governos estão abertos para as safadezas que hoje são vistas por todo o país com desperdício de dinheiro público, sem contar com a insana e destruidora corrupção. Apenas governinhos de quinta categoria, ou com intenções nada abençoadas, são capazes de obrar tantos projetos para apenas dar a “sensação” de que há governança quando tudo não passa de gastança desbragada a uns e outros, arrombando os cofres públicos.


Se houvesse intenção clara de governar pelo povo, para o povo e com o povo, bastaria no mínimo que cumprissem as leis, ou ao menos parte delas. Existem para constar as leis federal, aplaudida de pé depois de anos de discussão, e estadual sem contar a lei de Lula, sancionada em 2010, para criação de bibliotecas em todas as escolas públicas e particulares do país. Mas nada disso preocupa governinhos que preferem apostar na sensação de cultura para levar lançar projetinhos de qualidade suspeita e estabelecer como meta cultural o bundalelê dos shows em praça, que há anos está provado que são o canal preferido de nove entre dez administrações corruptas.