sábado, 12 de julho de 2014

O des-milagre brasileiro


O 7-1 não será assumido como uma anomalia futebolística, mas como a confirmação de um estado de coisas, de um fim de ciclo

(...) A aposta política no futebol foi de alto risco, mas ao final foi a única coisa que Rousseff podia se comprometer. Os cerca de 25 bilhões de reais investidos na festa, tão duramente criticados, teriam sido legitimados no ânimo popular com uma vitória da seleção. Como em toda aposta de alto risco, os dividendos do triunfo eram tão categóricos como as consequências que a derrota acarreta. O problema é que as autoridades nunca imaginaram um desastre esportivo de tal magnitude. O futebol é uma religião no Brasil; agora se transformará em política. Uma variável de consequências imponderáveis que não se encontra nos manuais de teoria política. Se o des-milagre econômico era mal recebido pelos brasileiros, o des-milagre futebolístico pode ser letal para a presidenta Dilma. Veremos.

Quando pagaremos?


A festa acabou, E agora, Josés? Vocês já calcularam o prejuízo? Essa conta não se pagará em crediário.
Durante um mês os aeroportos funcionaram mesmo inacabados, houve mobilidade urbana apesar de nem 10% das obras estarem prontas. O país se esmerou e empenhou tudo dentro do governo . E deu certo. Ou quase. Mas existe uma conta que não fecha.

Até vilarejos a léguas das sedes fecharam portas, deram feriado e ponto facultativo a seus comissionados. A farra foi tanta que esbanjaram em telões e shows para exibir jogos do Brasil ao populacho nessas vilas. Tudo com o financiamento popular, dinheiro que serviria para obras públicas fundamentais, educação e saúde. Quem vai pagar a esbórnia que políticos promoveram de olho em outubro?

O governo de d.Dilma se aplicou em divulgar lucros exorbitantes, empregos em penca e melhorias com o padrão Fifa. O Centro Aberto de Mídia foi uma verdadeira máquina com produção diária de releases divulgando os grandes sucessos da Copa. Foi o show dos milhões e bilhões como anunciou até uma geração de R$ 30 bilhões à economia. No entanto, não há livro-caixa para conferir o que o país lucrou.

Certeza é que a Copa foi um milagre brasileiro, mais um. De ser o único país até hoje a lucrar com grandes eventos esportivos, fato que não aconteceu, com o perdão da palavra, nem com a Alemanha. O que acontece só mesmo no Brasil, aquele deitado em berço esplêndido, de onde jorram os mananciais da dinheirama pública para regalo dos políticos, ainda mais em véspera de reeleição.

Podem agora os especialistas até afirmarem que não haverá um efeito Copa em outubro. Analisam outras Copas, outras derrotas, mas se esquecem de quanto foi especialíssimo este evento para o país, que gastou fortunas e durante um mês envolveu o governo de tal forma que se esqueceu até de governar. No embalo, aproveitou para distribuir benesses eleitoreiras. O país ficou inteiramente em recesso como os parlamentares, mas precisou trabalhar para pagar as contas, o que não aconteceu com os meliantes das casas legislativas.

A derrota na Copa em casa pode pesar mais do que calculam, porque o país também perdeu dinheiro que será o contribuinte a recolocar tudo em caixa. Algo que os marqueteiros governamentais querem afastar da imagem santa da presidente. Afinal Copa e Olimpíadas, no Brasil, foram ideia de alguém muito esperto e louco para usufruir de juros eleitorais com sua tacada. Como surgiu uma Alemanha no meio do caminho, o jeito é tirar da reta o governo e deixar a contar se pagar por si mesma. Ou seja, o débito fica para aquelas crianças que choraram a derrota e, quando forem cidadãos produtivos, começarão a pagar o choro de hoje.          

Comensais


'Vencedores e perdedores' na economia


Quando a última bola rolar em campo, neste domingo, a Copa do Mundo terá deixado vencedores e perdedores também na economia.
Apesar das promessas do governo de que o evento geraria milhares de empregos e ajudaria a impulsionar a economia, ainda não está claro qual será seu impacto geral nesta área. Consultorias sondadas pela BBC Brasil, como a Tendência e a Capital Economics, preveem um efeito nulo ou insignificante sobre o PIB.

Mas se o saldo total do torneio ainda é incerto, está cada vez mais evidente que alguns setores devem comemorar a "taça" das vendas, enquanto outros amargarão resultados mais fracos.

Entre os mais beneficiados, segundo o economista Juan Jensen, da Tendências, estão negócios ligados a segmentos de lazer e turismo, como bares e os hotéis das cidades-sede. Produtores de cerveja e fabricantes de televisores também saíram ganhando. E ainda na fase de preparação para os Jogos, grandes empreiteiras lucraram com as obras ligadas ao Mundial.

Do lado dos perdedores parecem estar a indústria em geral e o varejo não ligado ao torneio - que sofreram com os feriados e paralisações provocados pelos Jogos.