sábado, 5 de julho de 2014

Legado da Copa


Depois do tiro se desenha o alvo

   

 Nos velhos alfarrábios sempre há parábolas que nos ensinam mais do que se pensa. Pequenas pérolas podem nos fazer pensar muito até sobre certos gestos de chamados grandes homens, ou como são adjetivados na mídia de hoje. E mesmo tanto tempo passado estão elas a nos advertir sobre as aparências que podem enganar.
     Conta uma velha história que o imperador do Japão, em visita às províncias, encontrava em cada cidade um alvo com uma flecha cravada bem no meio. Intrigado e curioso por conhecer o emérito arqueiro, soube pelas autoridades locais que esse era apenas um idiota.
- Idiota? Mas como um imbecil pode disparar com essa habilidade um arco?
    E qual não foi sua surpresa ao descobrir o “segredo” do extraordinário arqueiro:
- Primeiro ele dispara a flecha. Depois desenha o alvo.
(Qualquer semelhança não é mera coincidência em se tratando de Brasil)

'Depósito humano' de mendigos acumula denúncias no Rio

     

Um verdadeiro "depósito de seres humanos". É como o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro se refere ao Abrigo Rio Acolhedor (Paciência) – cujas funções seriam o acolhimento e reinserção social da população em situação de rua – após o local acumular ações judiciais e denúncias de falta de higiene, transmissão de doenças, superlotação e negligência.
     Em funcionamento há três anos, o abrigo pode estar prestes a ser alvo de nova petição do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que insiste no fechamento total após uma polêmica visita às instalações no início de junho que verificou uma série de irregularidades.
     Entre elas estariam a presença de percevejos nos colchões - responsáveis por lesões de pele -, insalubridade, falta de encaminhamento dos abrigados para programas de trabalho, banheiros sem portas, falta de protocolos de atendimento ambulatorial e mau estado das instalações de forma geral, além da presença de insetos e baratas.

Haja máscara para se tirar

     Aos poucos, voltamos a tirar a máscara. A Copa vai-se esfumaçando e deixa a reluzir novamente nossa cretinice. Os focos da mídia já não são tantos para jogadores e torcida e assim afloram aqui e ali esses sinais de sem-vergonhice padrão Brasil. Ainda pequenos em espaço, mas sem dúvida bem significativos dessa cultura sempre babosa pelo poder.
     O governo solta foguetório para um país livre de mazelas, que é só festa, onde tudo funciona bem e cretinos são os que querem lembrar que a realidade do desprezo com a população não muda. Faltam remédios, inclusive para tuberculose, com graves riscos para os doentes. Mas que problema tão reles para uma presidente que inaugura casa por videoconferência, a R$ 2 milhões pela publicidade e mais R$ 1 milhão para espalhar sete ministros em aviões da FAB para os locais de inauguração?
     A mesma ladainha não voltou, apenas esteve em pausa com as doses cavalares de um futebol a trocar as pernas em campo. Se faltou mais garra no gramado, a “segurança” esbanjou e até se esmerou internamente no ataque contra “revoltados” sentindo o peso do cassetete – ah, os velhos tempos de volta! Nem faltou uma agressão desmedida a jovem universitária no metrô, que de vítima virou ré. “Parece que vivemos em um estado de exceção”, declarou a estudante “Joana”, sem nome para não ser identificada. Voltamos ao tempo do codinome para não sofrer com o tacão das botas?

     O país é o mesmo de sempre, apesar da cantoria de que mudou para melhor, porque “eles” assim quiseram e fizeram. Pois sim! Aos poucos tudo retoma à normalidade no quartel de Abrantes. Os políticos presos e condenados já não são tão perigosos à sociedade e bem podem desfrutar das regalias que o poder oferece. Como reocupar cargos, trabalhar (sic), serem cidadãos honestos e cumpridores da lei, mesmo que seja com o requinte de carro de luxo com chofer para levá-los ao trabalho (?), onde continuarão a comandar, mandar e desmandar, sobre a sujeira política de sempre para infelicidade geral da nação. Como assim já fizeram bem protegidos pelas grades do xadrez de onde comandaram mexidas políticas no melhor estilo dos chefões do tráfico.