segunda-feira, 23 de junho de 2014

O Planalto é deles?


O encontro do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência com blogueiros e chapas brancas na última semana dentro do Palácio do Planalto não é o primeiro, mas outro de uma série em que transformam o palácio presidencial em escritório petista, porque o decreto que desejam aprovado é partidário e não de interesse nacional como fazem supor. Esse abuso dentro do próprio Planalto vem se sucedendo há meses e teve como destaque até a reunião, no ano passado, de ex-presidente e do marqueteiro para discutir medidas contra as manifestações de rua.  
O mais importante prédio da República está servindo de escritório privilegiado para as reuniões de interesse do PT, que ainda se servem de toda infraestrutura pública, paga com o dinheiro do povo, para discutir seus planos eleitorais e de governança ditatorial. O uso indevido do patrimônio nacional para meras reuniões de partido com vistas às eleições é a demonstração de que os petistas se consideram donos de tudo na República, inclusive das leis. 
As reuniões também chamam a atenção para um detalhe que é a presidente, eleita para defender todos os brasileiros, aceitar coniventemente o abuso dentro do próprio palácio.  Faz parecer que temos no cargo apenas uma marionete que abre as portas do Palácio quando o senhor partido mandar. Ainda mais que o local deveria ser palco para discussões com parlamentares, representantes eleitos, mas não para meros escolhidos pelo partido para desenvolverem táticas de guerrilha eleitoreiras.
O uso abusivo do Planalto revela bem o objetivo partidário do novo decreto, uma vez que ali se instalará o quartel-general do plano de Política Nacional de Participação Social, casualmente presidido pelo ministro da Secretaria-Geral. A democracia brasileira, segundo os petistas, vai assim instalar no prédio máximo da República o quarto poder, gerido por um eleito do partido. 

Vaias, xingamentos, rainhas

O assunto já parecia esgotado, mas não: agora começo a receber pedidos de assinaturas em manifestos de desagravo e de apoio à d. Dilma, como se os xingamentos que recebeu na abertura da Copa fossem algo nunca ouvido. “Não porque ela é a presidente. Nem porque é do PT. Nem precisa gostar dela ou do PT. É porque uma senhora deve ser respeitada. Imagino que todos tenham mãe, irmãs, esposas ou mulheres próximas que não gostariam que fossem xingadas” escreveu uma amiga ao me encaminhar o terceiro pedido que recebi em menos de dois dias.

Ela está enganada. Como tanta gente já observou, não há figuras mais desrespeitadas em estádios do que as mães, e não é de ontem. Mas nunca, jamais, ninguém propôs um manifesto a favor das mães dos juízes, todas, suponho, senhoras de certa idade. Os manifestos estão surgindo exatamente porque Dilma é a presidente, porque é do PT (que sempre foi especialista em agitprop) e, sobretudo, porque estamos em ano eleitoral, e o partido ainda vai fazer o que puder para explorar politicamente o episódio. Como, aliás, faria qualquer outro partido — embora, mais uma vez, os petistas estejam forçando a mão na odiosa divisão de classes e raças que tem sido a sua marca registrada, ricos versus pobres, eles contra nós, cronópios e famas.

A Copa como metáfora do novo Brasil

Aquele futebol único que apenas o Brasil sabia criar no gramado, que fez de Pelé o mais brilhante embaixador do país, está mudando, se globalizou e se uniformizou

Deveria ter sido a Copa das Copas. Não está sendo nos estádios, porque o time brasileiro já não entusiasma o mundo como antes e nem sequer os de casa. O futebol já não se identifica com o país de Pelé, Garrincha e Neymar. Outros estão jogando igual ou melhor do que a família Scolari.
A situação que vive o futebol do Brasil pode ser ao mesmo tempo paradoxal e metáfora positiva de algo mais profundo que este país está vivendo.
É provável que o Brasil ganhe a Copa, mas ele já não é, como no inexorável passado, indiscutível. Outros também podem ganhá-la, ou melhor ele também pode ganhá-la. Virou normal.
Aquele futebol único que apenas o Brasil sabia criar e imaginar no gramado dos estádios do planeta que fez de Pelé o mais brilhante embaixador do país, está mudando, se globalizou e por isso mesmo se uniformizou.
Em destaaque
Não estará chegando um Brasil mais moderno, mais inconformista e pragmático, aonde se continue sofrendo quando a equipe de coração joga mal, mas também aonde se possa chorar e lutar por outras causas mais próximas de nossa vida real, as vezes feliz e as vezes cruel?