segunda-feira, 17 de março de 2014

As plantas e os porcos

Planta viçosa nunca se viu. Imensa ramaria, folhas aveludadas e coloridas, imensas flores perfumadas. Maciços delas tomavam os campos. Era uma festa cada floração e uma alegria a cada manhã. Até os porcos chegarem.
Focinhavam em tudo. Se refestelavam sobre as moitas macias. As belas flores eram pasto para uma fome incomensurável. Os dias perderam a beleza. E o que era perfume pelo ar passou a ser impregnado fedor de bosta, de sujeira. Os campos estavam sendo arrasados pelas patas insanas e bocas famintas de destruição.
Se era preciso fazer alguma coisa, foram as próprias plantas que decidiram agir. Ninguém mais se manifestou contra a porcaria que se implantou naquela terra. Das moitas coloridas, restaram toquinhos. E deles, com esforço, as plantas passaram a lançar espinhos. Aos poucos cada uma foi se recuperando.
Espinhentas, se tornaram um tormento para os porcos, que já não faziam delas pasto e repasto. Puderam começar a crescer e a reflorir, exalando pelos caules um cheiro ácido só sentido pelos porcos. Nenhum deles se arriscava a enfrentar plantas tão fedidas e espinhentas.
Foi só quando voltou a Primavera que novamente surgiram os campos renovados, esplendorosos. A voracidade dos animais foi para outros prados, os porcos nunca mais voltaram para comer e espezinhar a felicidade, que refloriu perfumada de flores.